CONSUMIDOR:
DO ÊXTASE À AGONIA
Pedro Cabral Cavalcanti
Baixa-estima é talvez
a palavra-chave para classificar o consumidor de baixa renda. Baixos salários
fazem ficar vulneráveis a vitupérios e ovações de forma que se alguem o xinga
ele parte para o revide, mas se alguém o elogia
ele simplesmente relaxa e baixa sua guarda. Este é o verdadeiro ponto fraco dos assalariados e
o segredo que não é mais segredo das aves de
rapina
que consomem seus míseros salários, porém, juntando tudo
dos incautos o somatório dá uma vultosa fortuna.
Os anos 90 marcaram a febre dos
celulares e dos cartões de crédito. Era (pelo menos o que se pensava) status ter um cartão de crédito.
Acreditávamos que estávamos sendo prestigiados. Se alguém quer me dar
um cartão de crédito é porque eu tenho valor, estou sendo prestigiado pelo ele.
Imagine ter mais de um cartão de
crédito. Numa roda de amigos, sempre surgia a
conversa dos cartões de crédito e sempre aparecia um que tinha mais do que os
outros ou que tinha um cartão que se destacava ante os demais. Quando ia pagar
uma conta e perguntava quais os cartões que a loja aceitava e o garçom dizia
“escolha o que o senhor quiser” isso era um motivo de muito orgulho. Mas os cartões
não estavam sós. Havia também os cheques especiais. Estes sim elevavam ainda
mais o status de quem os tinha. E quando aumentavam o valor aí que
pensávamos que podíamos gastar mesmo.
Falam em aliciamento sexual, mas
esquecem de combater o aliciamento financeiro que é muito mais
poderoso e covarde. Esse sim faz muito
mais vítimas e os que sobrevivem chegam a passar
necessidade. Juros sobre juros, esta com certeza não é uma forma honesta de se
ganhar dinheiro. Mas eles pagam impostos e assim pode, é lícito. Desonesto é o
agiota, pois não paga impostos. Esse merece ir para a cadeia. As financeiras
podem porque são agiotas legalizadas e fazem tudo de
acordo com a lei...dos homens.
Lembro-me quando abri minha conta
bancária e peguei meu primeiro talão de cheque. Enchi-me de orgulho. Fazia
questão de pagar com cheque e o especial então nem se fala. Cheguei a pagar uma
valise que comprei a um ambulante com cheque. Em plena rua, ou melhor, em cima
de uma ponte passei um cheque a o vendedor confiou em mim. Eu era ou não era uma
pessoa especial, com prestígio?
Fui dirigir uma escola
pública. O gás vinha por empenhos que demoravam muito. Faltava gás para fazer a
merenda das crianças e eu estava lá, prontamente para passar o cheque e mais
cheque... e a bola de neve começou a se formar.
Quando se vai abrir uma conta no banco,
tudo são flores. Servem até cafezinho. Porém quando estamos endividados e
queremos fazem acordos eles dizem logo que as normas do banco não permitem isso
ou aquilo que facilitem os devedores. Comigo, a situação ficou tão critica que
para saldar o cheque especial eu tive que fazer um acordo na Justiça.
Agora quando vou pagar alguma coisa e
perguntam se é crédito, eu logo digo que sou um homem DESACREDITADO.
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