terça-feira, 8 de janeiro de 2013


CONSUMIDOR: DO ÊXTASE À AGONIA

                                                    Pedro Cabral Cavalcanti

         Baixa-estima é talvez a palavra-chave para classificar o consumidor de baixa renda. Baixos salários fazem ficar vulneráveis a vitupérios e ovações de forma que se alguem o xinga ele parte para o revide, mas se alguém o elogia ele simplesmente relaxa e baixa sua guarda. Este é o verdadeiro ponto fraco dos assalariados e o segredo que não é mais segredo das aves de rapina que consomem seus míseros salários, porém, juntando tudo dos incautos o somatório dá uma vultosa fortuna.

         Os anos 90 marcaram a febre dos celulares e dos cartões de crédito. Era (pelo menos o que se pensava) status ter um cartão de crédito. Acreditávamos que estávamos sendo prestigiados. Se alguém quer me dar um cartão de crédito é porque eu tenho valor, estou sendo prestigiado pelo ele. Imagine ter mais de um cartão de
crédito. Numa roda de amigos, sempre surgia a conversa dos cartões de crédito e sempre aparecia um que tinha mais do que os outros ou que tinha um cartão que se destacava ante os demais. Quando ia pagar uma conta e perguntava quais os cartões que a loja aceitava e o garçom dizia “escolha o que o senhor quiser” isso era um motivo de muito orgulho. Mas os cartões não estavam sós. Havia também os cheques especiais. Estes sim elevavam ainda mais o status de quem os tinha. E quando aumentavam o valor aí que pensávamos que podíamos gastar mesmo.

         Falam em aliciamento sexual, mas esquecem de combater o aliciamento financeiro que é muito mais poderoso e covarde. Esse sim faz muito mais vítimas e os que sobrevivem chegam a passar necessidade. Juros sobre juros, esta com certeza não é uma forma honesta de se ganhar dinheiro. Mas eles pagam impostos e assim pode, é lícito. Desonesto é o agiota, pois não paga impostos. Esse merece ir para a cadeia. As financeiras podem porque são agiotas legalizadas e fazem tudo de acordo com a lei...dos homens.

         Lembro-me quando abri minha conta bancária e peguei meu primeiro talão de cheque. Enchi-me de orgulho. Fazia questão de pagar com cheque e o especial então nem se fala. Cheguei a pagar uma valise que comprei a um ambulante com cheque. Em plena rua, ou melhor, em cima de uma ponte passei um cheque a o vendedor confiou em mim. Eu era ou não era uma pessoa especial, com prestígio?

         Fui dirigir uma escola pública. O gás vinha por empenhos que demoravam muito. Faltava gás para fazer a merenda das crianças e eu estava lá, prontamente para passar o cheque e mais cheque... e a bola de neve começou a se formar.

         Quando se vai abrir uma conta no banco, tudo são flores. Servem até cafezinho. Porém quando estamos endividados e queremos fazem acordos eles dizem logo que as normas do banco não permitem isso ou aquilo que facilitem os devedores. Comigo, a situação ficou tão critica que para saldar o cheque especial eu tive que fazer um acordo na Justiça.

         Agora quando vou pagar alguma coisa e perguntam se é crédito, eu logo digo que sou um homem DESACREDITADO.


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